Uma coisa chamada Transtorno de Ansiedade : o transtorno de pânico

novembro 13, 2017









- Disclaimer: não sou psicóloga, psiquiatra ou neurologista. O que encontrarem escrito acerca disto serão sempre testemunhos das experiências que tive podendo não ser clinicamente exactos. -

Já falei várias vezes da minha “condição” no meu instagram (i_valadas). Devo, aliás, dizer-vos, que o meu instagram se tornou uma peça chave das pequenas atitudes que tomo no dia-a-dia  para combater e lidar com este transtorno, que hoje trato quase por amigo, que é o transtorno de ansiedade. – As razões pelas quais o documento no instagram e como o faço serão faladas num outro post. Hoje, e antes de mais, quero apresentar-vos ao meu sempre presente amigo/inimigo de longa data porque existem ainda muitos preconceitos e confusões acerca dele. Principalmente em Portugal onde qualquer transtorno mental é descurado e ignorado como se não tivesse a mesma importância (ou mais) que os problemas físicos. 

Já vivo com este transtorno faz 6 anos, foi descoberto aos 17 junto com uma depressão (uma outra amiga que decidiu tirar férias por agora depois de medirmos forças) e desde os 17 anos que a aprendizagem tem sido transversal a quase todas as áreas da minha vida.  - Diria hoje que não me consigo imaginar sem a imensa transformação que gerou em mim. 

Primeiramente devo dizer-vos que existem vários transtornos de ansiedade sendo que os que tenho são o transtorno de ansiedade generalizada e o transtorno de pânico. É difícil dissociá-los pois funcionam como sendo cíclicos - se a ansiedade aparece e não a consigo desde logo controlar é provável que gere um ataque de pânico; se sinto que um ataque de pânico está a iniciar é provável que fique ansiosa e assim acabo por "puxar" o ataque. - Fofo, não é?

Não, não é. Não é porque estes problemas não são, nunca são, como os vêm documentados em novelas, séries (13 Reasons Why? Odiei a série exactamente por isso), curtas-metragens, filmes, o que seja. O que é apresentado aí é uma versão romantizada dos distúrbios mentais. Na realidade, as pessoas não acabam por ter pena de vocês, não vão compreender bem o que é, e geralmente, é sozinhos que aprendem a lidar com essa condição. 
Ninguém sabe como reagir, e eu até compreendo. O transtorno de pânico apresenta-se como um intenso medo e/ou mal-estar (sensação de que algo muito mau vai acontecer e não o vão poder evitar) que se traduz em sintomas físicos e cognitivos que iniciam de forma brusca e automática e que atingem o máximo exponencial, segundo dito pelos médicos, em 5 minutos ( digo "segundo dito pelos médicos" porque os meus ataques de pânico podem durar entre 30 minutos a 1 hora e 30 minutos.) 
Os ataques de pânico surgem como uma defesa natural do nosso organismo - o problema aqui é que não existe a necessidade de ele se defender, ou seja, o organismo assume uma ameaça irreal e acciona a resposta do sistema simpático (integrante do nosso sistema nervoso) e este reage fisicamente. 
Trocando isto por miúdos basicamente o meu botão de alarme está danificado, que é como quem diz, os meus neurotransmissores ( o tico e o teco se preferirem) andam um bocadinhhoooo confusos nas mensagens que passam entre si. 
Para uma falha de comunicação e um desequilíbrio químico, no entanto, as consequências parecem bastante dramáticas: 
- Aumento da frequência cardíaca;
- Hiperventilação;
- Ressecamento da boca;
- Sensação de falta de ar;
- Dor torácica alta (amiiiigooooooos, isto é a pior cena de sempre);
- Vertigem/ Sensação de desmaio;
- Tremores/ Espamos musculares;
- Contractura das mãos;
- Cãimbras;
- Sensação de aperto na garganta

Ainda acham que está tudo na cabeça? (desculpem, não resisti) A maior parte das vezes os ataques de pânico traduzem-se em um medo absurdo de morrer ou de, no dia seguinte, já nada estar lá (lembro-me de repetir isto ao meu namorado vezes sem conta). Imaginem que estão na linha de comboio amarrados e não sabem quando ou se algum comboio vos vai passar por cima até alguém chegar e vos desamarrar. Imaginem que se fartam de gritar e chamar por alguém mas sabem que são vocês que têm que se desamarrar porque mais ninguém o sabe fazer.- é essa a sensação. Sabem que têm de fugir mas não fazem ideia nem de como nem de para onde. 


A parte mais divertida?
A parte mais divertida é que um ataque de pânico não tem dia, hora ou momento para acontecer. Existem dias que ao acordar eu já sei que vou ser brindada com um mais tarde ou mais cedo. Existem outros dias em que parece tudo normal e de repente BAM - o botão automatiza-se e o tico e o teco correm desenfreados em círculos redondos bradando aos céus. Já me aconteceu em casa, já me aconteceu em bares, já me aconteceu numa viagem de carro e pior do que tudo, já me aconteceu no trabalho - sim, sim, já atendi pessoas ao telefone com lágrimas a escorrem-me em fio pela face abaixo. 

Existiram anos em que tomei medicação - que existe e que pode ajudar -para controlar. Depois de descobrir o sofrimento que é tanto para me habituar como para deixar a medicação, decidi no início deste ano, que ia tentar outra abordagem. A questão da medicação também vai ser falada num outro post porque acreditem, estas doenças são como uma cadeia. Afectam quase todas as áreas da nossa vida. A medicação desvirtua a nossa personalidade e o que somos, altera o nosso organismo por completo, danifica a capacidade de concentração. Sem medicação, é necessário o dobro do esforço para chegar ao final do dia, alguns dias. Outros, o desejo da cama e do sossego é a única coisa em que consigo pensar. 

Sim, porque estes transtornos também têm uma parte muito psicológica: os pensamentos são muito parecidos aos pensamentos derrotistas da depressão. Passam por acreditar que nunca vamos conseguir sair daquela prisão nem do ciclo vicioso de sermos diferentes e termos aquela condição. - Novamente, matéria suficiente para um novo post. 

Por agora despeço-me de vocês sentindo que fiz parte do que me é devido: tentar criar awareness para estes problemas que em tanto ainda são deixados de parte. A saúde mental é uma das partes mais importantes no mundo em que vivemos actualmente e já é hora de termos essa noção. 




Sejam gentis! Tudo o que pomos no mundo volta para nós!

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